Teresa Núncio: “As pessoas olham para um ativista como a pessoa que cria o problema. Nós não estamos a criá-lo, nós damos visibilidade”
Ativista e estudante de Medicina, Teresa Núncio é uma jovem de 21 anos que tem como missão a luta pelo clima – uma luta não só para salvar o ambiente, mas também para salvar as pessoas, sublinha. No Podcast Gender Calling, a convidada alerta-nos para a importância do trabalho "transformativo" e da urgência em tomarmos medidas concretas para mudar o paradigma das alterações climáticas.
Foi no Instituto Superior Técnico, enquanto ainda era estudante de Física, que Teresa assistiu a uma reunião de um coletivo sobre o clima e começou a envolver-se nesta causa. Atualmente, dedica a maior parte do tempo a planear iniciativas e é porta-voz do coletivo Greve Climática Estudantil: “Não sou uma porta-voz inata, mas sou uma pessoa que começou a consciencializar-se dos problemas que há no mundo e que percebeu que é preciso alguém falar”, revela.
Segundo a entrevistada, a missão da Greve Climática Estudantil é alertar as pessoas para a necessidade de responder devidamente ao problema da crise climática e promover a sua capacidade para gerar mudança: “O trabalho 'transformativo' não é só para fora, mas é também para dentro. Nós estamos a capacitar-nos para criar a mudança e o movimento precisa disso: de pessoas que aumentem a sua escala de envolvimento e que sejam capazes de criar mudança.”
Neste sentido, Teresa tem feito parte de diversos movimentos, nomeadamente o “Fim ao Fóssil: Ocupa!” com o qual ocupou, juntamente com outros jovens, várias escolas em outubro e novembro do ano passado. Na mesma altura, Teresa juntou-se a outras jovens ativistas e, de uma forma planeada, colaram-se à porta da sede do Ministério da Economia, em Lisboa. Pediam a demissão do ministro António Costa Silva por entenderem que não tinha legitimidade por ocupar tal cargo, devido ao facto de ter sido Presidente da Partex (gestora de ativos petrolíferos): “Nós pensámos: 'Não, não somos nós que temos de sair daqui. O senhor António Costa Silva é que não tem qualquer tipo de legitimidade para governar perante uma crise climática'”.
A ativista esclarece que o grande problema da crise climática não é “uma pessoa em específico, não é o António Costa Silva em específico”. O problema, garante, é a "indústria fóssil" e o facto de as empresas e os governos promoverem constantemente as ações individuais (poupar água, reciclar, diminuir o consumo de carne, etc) ao invés de tomarem medidas concretas para diminuir as indústrias massivas que poluem e causam efeitos em grande escala: “O sistema, as empresas e o governo adoram virar a câmara para nós e dizer: ‘O que é que tu estás a fazer para resolver a crise climática?’ e o que nós fazemos com o ativismo é virar a câmara de volta”, explica a entrevistada.
Teresa alerta, também, para a importância de as pessoas perceberem o verdadeiro papel do ativista e não olharem para as suas ações como desordeiras ou irresponsáveis: “As pessoas olham para um ativista como a pessoa que cria a destruição, o problema. Nós não estamos a criá-lo. (…) O problema está a ser escondido. Nós estamos é a dar-lhe visibilidade. É tudo um jogo do que é que está à vista e do que é que não está.”
Numa conversa sobre a paixão pela sustentabilidade, os receios do futuro, o preconceito em relação aos jovens e a organização dos movimentos, a convidada do Podcast Gender Calling promove um momento de reflexão e explica-nos que a forma de mudarmos a realidade climática é agirmos em conjunto.