Fazer um aborto. "Não se conta por causa do medo da rejeição"
Culpa, medo e angústia. São estas algumas das emoções que Regina Lima identifica nas mulheres que chegam ao seu gabinete, quando se prepararam para proceder à interrupção da gravidez. Ao contrário de algumas ideias que possam existir, revela Regina, não são só mulheres de um nível socio-económico mais baixo a optar por esta via. A "grande maioria das gravidezes não planeadas ocorrem no contexto de uma relação estável" e não de relações sexuais ocasionais, acrescenta.
A profissional tem 31 anos e há 5 que trabalha nesta clínica privada, no centro de Lisboa, que realiza interrupções da gravidez. Casada e com dois filhos, diz que sempre foi "pró-escolha", apesar de não ter sido um assunto falado em casa ao longo do crescimento. Apesar de a IVG ter sido despenalizada em 2007, Regina relata que as mulheres ainda denunciam algum estigma vindo de profissionais de saúde e questionam sobre algumas ideias que não correspondem à realidade, como o da infertilidade.
Regina Lima nasceu em São Tomé e Príncipe e conta que o facto de ser negra é um conforto para as mulheres negras que procuram a clínica, mas já foi sentido por si como um incómodo para uma paciente: "Já tive uma situação de uma pessoa que notei que estava desconfortável por eu ser negra e por ser a pessoa que a estava a atender. E também já tive pessoas a dizer: 'Eu não sabia que existia psicólogas negras'". A entrevista, aqui: