"Falar de menopausa e fertilidade no trabalho? O que é que isso tem a ver?"
Esta semana estive em Londres no The Watercooler, um evento de conferências e workshops sobre bem-estar no local de trabalho. Muito se falou de uma cultura empresarial que precisa de colocar as pessoas no centro das decisões, partindo do princípio que ninguém consegue desenvolver um bom trabalho se não estiver mentalmente e emocionalmente bem. É uma abordagem que entende o/a trabalhador/a como alguém que merece ser cuidado/a, e não só como um número dentro de uma cadeia com vista ao lucro.
O evento é uma espécie de Web Summit ou de Bolsa de Turismo de Lisboa, onde vemos vários stands alugados por empresas que pretendem vender o seu serviço a outras empresas: empresas de seguros de saúde, refeições saudáveis, aplicações de meditação, experiências holísticas, serviços de literacia financeira, entre outras. Ao mesmo tempo, acontecem workshops e debates sobre os temas mais importantes. E não é que houve painéis em que foi sublinhada a importância de trazer o tema da menopausa, da gravidez e da menstruação para o local de trabalho?
No painel "Supporting Women's Health in the Workplace" (fotografia em cima), ficámos a saber o porquê de ser preciso trazer estas questões para cima da mesa. Dhavani Bishop, Group Head of Colleague Health and Wellbeing da Tesco, trouxe uma ideia simples, mas nem sempre presente: "Queremos reter talento, certo? Então temos de conhecer as pessoas, saber o que as afeta". No caso das mulheres, sabemos como as dores menstruais podem causar alterações físicas e emocionais. O mesmo se pode dizer de quem está a passar por um tratamento de fertilidade, tantas vezes duro em várias dimensões. "No caso da menopausa, há calores, alterações hormonais, há perdas de memória momentâneas, irritações. Eu tenho de trabalhar num ambiente em que eu possa dizer: 'Desculpa, estou a passar por x e y. Não consigo estar a 100% agora', e que isso seja visto como natural", exemplificou Natalie Beresford, Chair Menopause Action Group da Thames Valley Police.
Para isso, afirmam as especialistas, é preciso uma consciencialização que venha de cima: "Têm de ser os líderes a dar o sinal. Os managers têm de ter um pacote de medidas preparado para estas situações", defende Dhavani. É também importante esclarecer que o foco nestes temas não beneficia só as mulheres que estão naquela fase da vida, mas alarga-se a outros grupos: "Quem está a passar por aquilo, quem pode vir a passar por aquilo, os homens que têm esposas que podem vir a passar por aquilo, etc", acrescenta Natalie.
Nas empresas que conhecem, as especialistas já viram vários mecanismos criados para apoio a várias situações: grupos de partilha de quem tem endometriose, redes de apoio para pessoas que perderam filhos, grupo de recursos de saúde mental para pais e mães, etc. O que aconselham cada empresa a fazer é a "começar pequeno" porque estas novas abordagens "ainda assustam muita gente", remata Natalie.
De todas estas questões, há várias que afetam a auto-estima e a confiança das mulheres e que, por sua vez, têm impacto na sua performance enquanto trabalhadoras. No fim de contas, trata-se de uma estratégia para dar vitalidade ao negócio: "Se as pessoas não se sentirem bem na empresa, elas vão acabar por sair", sintetiza Dhavani.