Joana Guerra Tadeu: "Neste momento nenhum de nós tem os seus direitos garantidos"
Foi jornalista durante 4 anos e passou por meios de comunicação como A Bola, RTP e a revista Sábado, tendo depois trabalhado em várias empresas como Banco CTT. Desde sempre apaixonada pelos temas do ambiente e da sustentabilidade, decidiu despedir-se e, em 2015 começou a produzir conteúdos sobre estes temas. É autora da página "Ambientalista Imperfeita" no Instagram, dá formações sobre sustentabilidade, é palestrante sobre estes temas e recentemente apresentou e moderou o programa "Verdes Anos" da RTP3.
Em entrevista ao Podcast Gender Calling, Joana Guerra Tadeu confessa que a decisão de se despedir se proporcionou por ter uma "almofada financeira" que lhe permitiu "arriscar", mas admite que aprendeu a ser imune aos comentários das outras pessoas na terapia: "Na altura falei com a minha psicóloga e ela disse-me: 'Enquanto a Joana não estiver segura do que está a fazer, toda a gente vai ter comentários para fazer. No dia em que a Joana estiver segura os comentários desaparecem'. E foi. Decidi casar aos 25 anos, ter um filha aos 27, não estou nada arrependida. Apesar de as pessoas dizerem: 'Mas agora divorciaste-te, não estás arrependida? Não, não estou'", conta.
A escassez de água é um dos problemas mais graves em Portugal no que toca ao ambiente, garante a especialista. Segundo dados que refere, em Portugal cada pessoa gasta em média 192 litros de água por dia. Em 2040, cada pessoa só terá acesso a 25 litros de água por dia. Joana explica este consumo: "Uma torneira aberta por minuto gasta entre 7 a 10 litros de água. Se tomares 10 minutos de duche, gastas 100 litros. E há muitos portugueses a tomar um duche de 10 minutos". Refere ainda que há uma relação entre o privilégio socio-económico e o uso da água: "Quem tem mais dinheiro gasta mais água. Não vê o recurso como escasso e, se ele falhar, sabe que o pode comprar", exemplifica.
A ativista dá ainda a sua opinião sobre o caso dos jovens ativistas pelo clima que interromperam um dos sentidos da Segunda Circular e a Rua de São Bento, em Lisboa. "Estamos a falar de ativistas que organizaram algumas das maiores manifestações no nosso pais nos últimos anos, que fazem comentário na televisão, que escrevem para os maiores jornais do país, que estiveram sentados à mesa com o ministro do ambiente no programa de televisão que apresentei. Não faltou tentativa de diálogo com o Governo. São jovens que percorreram 400 km a pé pelo nosso país para falar com as comunidades mais afetadas pela crise da água. O que eu digo a estes ativistas é 'Não parem'. Uma pessoa que acha que a estrada interrompida lhe está a estragar a vida não está a perceber que a vida já está estragada. Estes protestos querem interromper a normalidade, porque a normalidade ja está interrompida pela crise climática", defende em entrevista.
Uma conversa sobre a crise climática, sobre os temas da atualidade, mas também sobre o seu percurso no empreendedorismo com alguns arrependimentos pelo meio.
Entrevista disponível no Podcast Gender Calling (em todas as plataformas).