Inês Correia: “A culpa, o sacrifício, o não falar sobre quanto se ganha: há muitas crenças negativas ligadas ao dinheiro”
Especializada em Economia e Finanças, e apaixonada pelo mundo do dinheiro, Inês Correia deixou a sua carreira financeira para abraçar a área do empreendedorismo digital, através do qual, atualmente, ajuda milhares de mulheres a aprenderem a investir e a gerar riqueza.
Em entrevista ao Podcast Gender Calling, Inês confessa que sempre foi fascinada pelo universo do dinheiro e que foi em criança que teve o seu “despertar financeiro”, como a própria lhe chama: “Na realidade, sempre me fascinou o mundo do dinheiro, mas o meu despertar financeiro deu-se quando estava na 3ª classe e a minha professora lançou o desafio aos alunos de convencerem os pais a deixar de fumar. Começámos a fazer as contas de quanto é que custava fumar 1 ou 2 maços de tabaco por dia durante 1 ano. No final, dava um valor enorme e fomos ver o que é que podíamos fazer com esse dinheiro se os nossos pais não fumassem. Aí, percebi que podíamos fazer uma data de coisas que eu não fazia e pensei: ‘Os meus pais têm um determinado salário e estão a escolher a forma como o estão a gastar, e eu posso escolher de outra forma’. Há determinadas escolhas que fazemos na vida que fazem com que não tenhamos dinheiro para gastar noutra coisa. A partir daí, eu fiquei apaixonada por perceber mais sobre este mundo”, conta.
Depois deste despertar na escola primária, Inês perseguiu o sonho ao estudar Economia e Finanças, e trabalhou em alguns locais como o Banco Central Europeu e o Banco de Portugal, onde começou a perceber que o dinheiro era muito mais complexo do que parecia e que as questões emocionais que o envolviam tinham um forte impacto: “Estudei Economia, estudei Finanças e nunca pensei muito no longo prazo. Foi uma escolha feita muito pelo meu interesse pessoal e rapidamente - principalmente depois quando comecei a trabalhar - percebi que havia muitas questões emocionais que me bloqueavam, muitas questões de género, a culpa, a vergonha, o não falar sobre quanto é que se ganha, as crenças limitadoras (de ser difícil ganhar dinheiro, por exemplo). Percebi que havia poucas sensações positivas associadas ao dinheiro”, afirma a entrevistada.
A empreendedora acrescenta que estas emoções e crenças negativas são muito profundas, sendo ainda mais frequentes no caso das mulheres: “Eu acho que estas emoções negativas associadas ao dinheiro estão ligadas a coisas muito complexas como a relação com a vida, o merecimento de estarmos aqui e isso também está muito ligado ao género, daí as mulheres sentirem ainda mais essas emoções negativas. Hoje em dia, estas crenças negativas nas mulheres ainda existem muito. Não é só a mulher que tem mais dificuldade em pedir um aumento de salário, por exemplo, são os próprios chefes que veem a situação de forma diferente conforme seja um homem ou uma mulher a pedir este aumento. Ainda assim, há cada vez mais empresas que estão a fazer progressos incríveis, mas ainda estamos muito longe da igualdade salarial.”
Sentindo a necessidade de quebrar estas crenças limitadoras e de partilhar o seu conhecimento do domínio financeiro com o mundo, Inês Correia decidiu lançar-se no digital através de um blog e, mais tarde, juntou-se à também especialista Susana Rosa, com quem fundou a plataforma “Finanças no Feminino”: “Comecei por fazer um blog, o ‘Mais que Poupar’ em março/abril de 2019 e comecei a perceber que tinha muitas mulheres a seguirem-me. Entretanto, conheci a Susana e achei super giro ela falar só para mulheres. Inicialmente, eu ainda estava muito limitada, porque achava que o facto de eu ser mulher e falar deste tema era suficiente para ser uma coisa diferente, mas depois percebi que ainda precisamos de criar um espaço para falar disto só para mulheres. Com a pandemia, eu e a Susana começámos a fazer workshops e percebemos que era algo que as pessoas adoravam. Depois, começámos o "Finanças no Feminino" em setembro de 2020 com o nosso serviço de subscrição "Comunidade Mulheres Felizes". Demos um salto de fé, mas com alguma segurança”, conta-nos a empreendedora.
Para além da urgência em falar neste tema e em quebrar os tabus que lhe estão associados, Inês salienta a importância de cada pessoa ter um conhecimento básico sobre o mundo do dinheiro. Defende que o caminho para a riqueza não passa pelo que nos é incutido com a educação financeira tradicional, mas sim por saber como se pode gerar mais dinheiro e investir: “A educação financeira tradicional está muito focada no sacrifício, no medo. Induz-se, ainda mais, as emoções negativas que nós já temos. Poupar no cafezinho diário pode ajudar em alguma fase da vida, mas não é isso que vai fazer uma mudança significativa na tua vida. (Aquilo que vai criar mudança) é saberes ganhar dinheiro, aprenderes como funciona o mundo do dinheiro e investires em grandes decisões de compra”, argumenta.
A empreendedora garante, ainda, que todas as pessoas podem investir e aponta qual o melhor caminho a seguir: “Há um caminho que é importante percorrer de forma mais ou menos linear, que é: não teres dívidas pessoais (não falando do crédito da habitação) e teres uma almofada financeira – a que eu chamo fundo de liberdade – que é teres guardado o dinheiro equivalente a 3 a 6 meses dos teus gastos. A partir daqui, podes começar a investir pouco a pouco. Investir em bolsa, por exemplo, é algo que toda a gente pode e deve fazer. Podes investir 20/30€ por mês e vai fazer uma diferença enorme no futuro”.
Numa conversa importante sobre dinheiro, finanças, crenças limitadoras, investimentos e riqueza, Inês Correia partilha a sua história e destaca várias dicas para que se olhe para o dinheiro com outros olhos. A entrevistada do Podcast Gender Calling é também autora dos livros "Negócios Para Elas" e "Dinheiro para Elas", bem como autora de uma rubrica sobre finanças no Jornal de Notícias.
Entrevista disponível no Podcast Gender Calling (em todas as plataformas).