Guerrilla Girls: elas não perdoam o sexismo
O grupo nasceu em 1985, numa altura em que ainda não se questionava largamente a sexualização da mulher nos media ou na arte, não se via um número assinalável de mulheres em posições de poder nem se vislumbrava o aparecimento de movimentos como o #MeToo ou o #BlackLivesMatter. No entanto, elas já se indignavam com aquilo que viam: criticavam a falta de mulheres nas rédeas da arte e o excesso na exposição do corpo.
As Guerrilla Girls são um grupo anónimo de feministas e mulheres artistas que pretendem combater o sexismo e o racismo no mundo artístico. Intitulam-se de "ativistas artistas anónimas que usam mensagens disruptivas, visuais escandalosos e estatísticas mortíferas para expor o viés do género, da etnia e a corrupção na arte, nos filmes, na política e na cultura pop", lê-se na página oficial. Quando falam em "visuais escandalosos", referem-se às máscaras de gorila que usam para se manterem anónimas.
Uma das primeiras ações foi em Nova Iorque. Ainda no final dos anos 80, as Guerrilla Girls deslocaram-se ao Metropolitan Museum of Art e contaram o número de mulheres artistas que tinham obras ali expostas, em comparação com o número de mulheres nuas representadas nas obras presentes. A diferença na proporção chocou-as, e decidiram fazer um cartaz para circular nos autocarros da cidade americana – uma iniciativa que se estendeu a outras cidades.
Desde aí, fizeram o mesmo cartaz em 2005 e 2012, com a contagem atualizada - e muito semelhante à de 1989. As Guerrilla Girls têm também uma postura interventiva, inesperada e combativa, daí o nome "guerrilla". Já escreveram em paredes de museus "pelo seu mau comportamento e práticas discriminatórias", defendem, estendendo as suas causas à desigualdade de salário e de poder.
O trabalho do grupo já esteve exposto no Museu de Arte de São Paulo, na Bienal de Veneza, no Museu de Van Gogh em Amesterdão, e está agora exposto no Tate Modern, um dos mais importantes museus de Londres. É lá que encontramos peças com mais de 30 anos, mas que ilustram problemáticas que se mantêm até hoje.
A postura irreverente levou-as a juntar centenas de trabalhos no livro "The Art of Behaving Badly" – em português, "A arte de nos portarmos mal", que foi distinguido como um dos melhores livros de arte de 2020 pelo New York Times. Na exposição na capital inglesa, é mostrado o vídeo "O Guia das Guerrilla Girls para nos portarmos mal" – um manual elaborado com muita ironia, sobre o que é esperado do papel da mulher.
A exposição "The Guerrilla Girls: Tate Modern - EXHIBITION" é possível de ser visitada até 12 de maio de 2024.