“Guardiãs do nascimento”: partos empoderados contados por quem os vive
A vontade de duas amigas doulas conhecerem outras doulas pelo país fora transformou-se na realização de um documentário que pretendem que mude a forma como se olha para o parto, em Portugal, hoje em dia.
Foi no espaço cultural Compasso, no Porto, ao final da tarde de 6 de janeiro, que Cinthia Matos e Laylla Coelho apresentaram o trailer do documentário “Guardiãs do Nascimento – Doulas, Parteiras e Partos Empoderados”, do qual são as argumentistas.
O trailer deu o mote para uma conversa sobre gravidez com foco no parto natural humanizado. Moderada por uma doula, acompanhada por quatro enfermeiras e parteiras, a conversa centrou-se sobretudo na desmistificação de que o parto é um momento que pede medo, preocupação e um hospital.
Num registo informal, com mais de 50 pessoas a assistir, que iam participando e tirando dúvidas, o debate ficou marcado pela defesa de que ter um filho em casa é seguro. Com vasta experiência em partos domiciliários, as parteiras partilharam mesmo que “a partir do momento em que vês uma forma diferente de nascer, fica muito difícil voltares a trabalhar numa sala de parto dum hospital”. É que “grande parte das complicações que surgem numa sala de parto somos nós que criamos […], são causadas por intervenções cirúrgicas desnecessárias”, revelou ainda uma enfermeira.
Esta realidade – concordaram várias mulheres presentes no evento – vem da instalada política de manejar o corpo da grávida como "se este não funcionasse bem naturalmente e precisasse sempre de intervenção e indução do nascimento", defenderam. As enfermeiras afastam-se deste método e afirmam que os partos domiciliários não são perigosos, tendo sempre presente que só se deve realizar um parto fora do hospital quando o estado de saúde da grávida e do bebé é estável.
No fundo, a ideia principal que as duas doulas querem que se retire é que todo o processo de gravidez deve ser uma busca de liberdade marcada pela escolha da mulher sobre o seu corpo. “Valendo-se da reflexão e da experiência das guardiãs do nascimento em Portugal, o filme dá voz a profissionais que providenciam ferramentas essenciais para o empoderamento das grávidas e famílias”, nomeadamente médicas, psicólogas, antropólogas, parteiras e doulas, pode ler-se no resumo do filme. Com foco no parto natural e respeitoso, esta obra fala do poder interno feminino e da importância de cada pessoa poder compreender a sua fisiologia e a sua intuição.
Para conseguir finalizar a edição do filme (já com todas as filmagens terminadas) e estreá-lo, a equipa lançou uma campanha de crowdfunding a que podes aceder aqui. Podes, ainda, ler a entrevista que fizemos à Cinthia e à Laylla no final do evento, explorando a profissão de doula, a realidade portuguesa e possíveis políticas de saúde.