Claudelice Santos: “O que provocou a morte do meu irmão e da minha cunhada foi a militância deles pelo direito da natureza”
Nascida numa pequena cidade do Brasil, Claudelice da Silva Santos é uma das mais célebres ativistas da Amazónia. Dedicada de corpo e alma à luta pelos direitos humanos e da natureza, a convidada do Podcast Gender Calling dá-nos a conhecer a realidade que se vive na maior floresta tropical do mundo e o impacto direto e indireto que a mesma tem nas nossas vidas.
Primeiramente, Claudelice alerta para a importância de sabermos que a Amazónia é habitada por múltiplas comunidades que fazem daquela terra a sua fonte de sustento - através da produção sustentável de alimentos saudáveis (como o tão conhecido açaí) – e que têm impacto na economia local e regional. Não obstante, os terrenos destas pessoas são-lhes, muitas vezes, retirados para que empresários possam realizar produções massificadas: “Aquelas pessoas que estão dentro da floresta, dentro de uma luta por território, têm a vida afetada diretamente, porque perdem a vida e o seu território para dar espaço a fazendeiro ou a grandes indústrias de grão ou de boi. (…) As pessoas que vivem dentro das matas, que produzem frutos da floresta, alimentos saudáveis para nós, precisam de ser protegidas, porque essa floresta tem uma função não só para quem vive lá, mas para o planeta inteiro”, sublinha. Esta função, que Claudelice menciona, reflete-se no impacto ambiental que a Amazónia tem para todo o planeta – e as consequências da sua destruição afetam diretamente os seres humanos, através do impacto na indústria alimentar e na economia, garante a ativista.
Neste sentido, é fundamental compreender que a luta pela Amazónia é uma luta pela proteção da fauna e flora, mas também pelas pessoas que perdem a sua fonte de rendimento ou até mesmo a vida por esta causa, tal como aconteceu com o irmão e a cunhada de Claudelice. Alvos de várias ameaças por denunciarem crimes contra o ambiente, "grilagens" e trabalho escravo, os familiares da entrevistada acabaram por ser assassinados em 2011: “O que provocou a morte do meu irmão e da minha cunhada foi a militância deles pelo direito da natureza e pelos direitos humanos”, recorda, emocionada.
Foi a morte dos seus familiares que levou Claudelice a estudar Direito e a continuar a dedicar-se ao ativismo e é, hoje em dia, o grande motor que a faz não desistir da causa: “Por nós, pelos que já morreram, pelos que sofrem, (esta luta) vai ter que dar em alguma coisa. Se eu morrer amanhã, eu tenho a certeza que virão outros continuar essa luta. Tal como aconteceu com a minha cunhada e com o meu irmão. (…) Nós sabemos que é perigoso, mas a gente ainda acredita que a humanidade vai olhar para nós”.
Numa conversa emocionante, a convidada do Podcast Gender Calling proporciona-nos um momento de aprendizagem e reflexão, e explica como é que a mudança deste paradigma pode começar com a ação de cada pessoa.
Entrevista disponível no Podcast Gender Calling (em todas as plataformas).