Catarina Mira: “Se estivesse a chegar a Londres agora, com esta maturidade, se calhar o meu caminho teria sido diferente”
Conta com quase setenta e seis mil seguidores no Instagram, onde partilha diariamente a sua criatividade e a beleza que encontra na vida. Começou na dança, sonhou ser atriz, foi apresentadora de televisão na SIC e hoje vive em Londres ao lado do marido Martin e do filho Wolf. Catarina Mira nunca deixou que a arte que lhe é inerente se desvanecesse, mesmo quando o destino não lhe trouxe aquilo que queria. A influenciadora e criativa partilha, nesta entrevista no Podcast Gender Calling, como tem sido procurar a felicidade em caminhos alternativos.
Nascida e criada no Algarve, Catarina mudou-se para Lisboa com apenas 16 anos, pronta para iniciar o seu percurso profissional como apresentadora do programa Disney Kids no canal SIC. Mais tarde, aos 21, tomou a decisão de emigrar para Londres: “Foi uma vontade de explorar caminhos, porque até lá eu tinha tido uma vida um pouco rígida. Trabalhava em Portugal como atriz e apresentadora e estudava. Tinha um horário bastante preenchido. Até essa idade, eu nunca tinha experimentado realmente ‘diversão’, ‘ser jovem’, ‘trabalhar em algum sítio só para ganhar uns tostões’, ‘estudar aquilo que eu realmente queria, que era representação’ e fui um bocadinho sem planos. Acho que, atualmente, não faria uma escolha desse género. Acho que foi uma coisa própria da idade. Olho para trás com algum carinho e nostalgia por essa inocência, agradeço essa inocência, porque gosto muito do sítio onde estou hoje, mas sei que havia alguma imaturidade nessa escolha”, admite.
Apesar de ter ido com o intuito de ser atriz, as coisas não correram como planeado e a sua confiança foi-se perdendo com a rejeição: “Se estivesse a chegar a Londres agora, com esta maturidade, se calhar, o meu caminho teria sido diferente porque teria outra confiança em mim. Havia uma certa insegurança na altura, porque, até eu ter chegado a Londres, nunca tinha sofrido muita rejeição. E essa rejeição fez-me perder a confiança. Acho que a indústria há 10 anos também era muito diferente do que é agora. Eu não cabia propriamente numa 'caixinha’. Ninguém fazia castings para portugueses. Hoje em dia, se calhar há mais isso. (...) Acho que isso tudo se apresentou no meu caminho e foram coisas que me foram atrasando e que me foram destruindo, um bocadinho, o sonho, mas estou em paz com isso”, confessa a entrevistada.
Catarina partilha que conseguiu aceitar o facto de não ser atriz e seguir em frente, o que faz com que, hoje, consiga viver certos momentos com outra leveza: “Acho que só estou onde estou porque soube despir-me dos meus sonhos e soube andar para a frente e escolher caminhos alternativos. Há em mim, ainda, alguma mágoa por não ser atriz e, às vezes, tenho uma sensação agridoce quando surgem audições, por exemplo. Mas também, por um lado, divirto-me a fazer essas audições porque não carrego aquele peso de ter de conseguir o trabalho. Divirto-me e acho que na altura não me diverti.”
Atualmente, a entrevistada do Podcast Gender Calling direciona a sua criatividade para as redes sociais, principalmente o Instagram, onde se sente confiante: “Neste ramo, eu acho que tenho alguma confiança, porque sigo muito o meu instinto em relação àquilo que eu acho que funciona e que acho que é bonito. E deixei de ter medo de gostar do que é bonito. Acho que, durante muito tempo, achei que era fútil e agora percebo que o bonito tem o seu valor e tem propósito. E espero que o bonito não sirva apenas para instigar a comparação, mas que sirva para trazer alguma harmonia e paz. Aquilo que eu passo nas redes sociais não é de todo a minha vida real, mas é uma coleção de momentos que a mim me trazem alguma poesia”.
Catarina conta-nos, ainda, como foi encontrar o amor em Londres e como tomou a decisão de se tornar mãe do pequeno Wolf: “Eu acho que nunca pensei muito sobre a maternidade, (a escolha de ter um filho) foi um bocadinho como a decisão de vir para Londres. Não houve um debruçar, um olhar para as finanças. O Martin tinha passado por uma fase difícil em relação à saúde mental e, depois de se sentir melhor, fez-me essa proposta (de terem um bebé) e a coisa aconteceu.”
Numa conversa envolvente e tranquila, Catarina Mira fala sobre o seu percurso profissional, o que adora no facto de ser mãe e a intensidade que essa experiência traz, por que escolheu fazer o parto em casa e como é amar alguém que passa por uma depressão.