Calor machista, tranças e gordofobia em direto
Bom dia!
Como se sentem hoje?
Hoje trago-vos considerações sobre estudos, polémicas e novos conteúdos fresquinhos.
Sim, o calor anormal continua a ser assunto, sobretudo pelas suas consequências gravosas. Além dos incêndios e das perdas que deles resultam, há também um "excesso de mortalidade" em Portugal – foram registados 1063 óbitos entre 7 a 18 de julho.
Os dados em Portugal não foram discriminados por sexo mas, de acordo com alguns especialistas internacionais, os índices de mortalidade durante ondas de calor extremo são maiores nas mulheres.
Um estudo de um professor de uma universidade de Amesterdão aponta uma explicação: "Geralmente, as pessoas idosas suam metade da quantidade que os jovens suam, e as mulheres suam metade da quantidade dos homens". Ou seja, o corpo das mulheres idosas tem menos capacidades para libertar calor, comparando com o dos homens idosos – que são o grupo etário mais vulnerável a altas temperaturas. Assim, elas, em geral, sofrem mais do que eles.
Será possível que até na produção de suor as mulheres sejam prejudicadas? Nem as ondas de calor atacam por igual 😅
Esta semana estalou uma polémica com a atriz Rita Pereira, que decidiu fazer tranças tradicionalmente usadas por mulheres negras. A expressão "apropriação cultural" saltou para as partilhas nas redes sociais.
Mas afinal, o que é apropriação cultural?
- "O ato de tirar ou usar aspectos de uma cultura que não é a sua, especialmente sem mostrar entendimento ou respeito por essa cultura", lê-se no Dicionário de Cambridge.
É uma definição simples para um tema bem mais complexo. Afinal, como é que se mede esse "entendimento" e esse "respeito"? É pela informação consumida, pelos espaços frequentados, pelo que se fez profissionalmente, pelas relações pessoais, pelos comentários públicos? Estou certa de que não existe uma bitola que fosse agradar a toda a gente.
Duas coisas garantidas:
1ª: as redes sociais são espaços cada vez mais inflamados, em que há quem se envolva numa polémica só porque é uma polémica. Quase como aqueles espetáculos dos gladiadores, em que se assiste e se vocifera umas mensagens para fazer parte.
2ª: há assuntos extremamente relevantes a serem trazidos para a praça pública (como é o caso da apropriação cultural), que parece que se perdem no enxovalhamento de uma pessoa singular. Com esta polémica, quantas pessoas foram ler sobre o tema? Quantas estão hoje mais informadas? A maioria amanhã já nem se lembra. O que devia servir para consciencializar acaba por se desvanecer na polémica em si, o que resulta em mais uma oportunidade perdida.
Li e gostei
Julho está quase no fim (peço desculpa pelas más notícias). Há quem esteja de férias e quem vá nas próximas semanas, e para todas as pessoas (incluindo aquelas que podem apenas tirar uma tarde ou dia), este artigo é útil. Uma lista de dicas para "não fazer nada" que inclui lembrarmo-nos que "não somos o que fazemos". Também são daquelas pessoas que quando pensam em quem são, pensam automaticamente na profissão que têm? Talvez tenhamos de rever isso.
E por falar em empresas, o tema da diversidade ainda é recente no que à aplicação prática diz respeito. Esta entrevista lança algumas ideias sobre a falta de mulheres no setor tecnológico, e inclui a referência a um entrave à inclusão que, arrisco-me a dizer, toda a gente tem – a o convívio com a diferença. "Claro que o mais normal é, se eu penso de uma determinada maneira, vou procurar os que pensam igual a mim", diz Teresa Carreiro. Verdade. Procuramos apoio, não desacordo. O desafio maior não é mexer com as políticas, mas sim com as mentalidades.
Gender Calling
Marcámos a entrevista para um café em Belém. Helena tinha acabado de sair da CNN Portugal e tinha um outro compromisso, pelo que a conversa desenrolou-se ali mesmo. A gordofobia de que é alvo, a carreira de jornalismo em mais de 50 países, a tentativa de violação que sofreu, as filhas e o feminismo na maternidade. Helena Ferro de Gouveia abriu o livro da sua vida ao Gender Calling, com muitas partilhas honestas e sensíveis. Para ouvir no Podcast Gender Calling, em todas as plataformas.
Em 2021 foi Demi Lovato a anunciar publicamente que é uma pessoa não-binária, agora é o caso do rapper americano Lil Uzi Vert – é a conclusão tirada pelos media, depois de este ter alterado os pronomes no Instagram para they/them. Para Wolf, é também uma conclusão recente: foi há 3 anos que percebeu que as "caixinhas" do género binário não eram para si. Falou connosco sobre esse processo, mas também sobre a rejeição da família ao assumir que gostava de raparigas, a discriminação no local de trabalho e o conservadorismo da zona onde vive.
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Um bom dia e um bom fim de semana!
Catarina Marques Rodrigues
Jornalista e Fundadora Gender Calling