Artistas lusófonos expõem fotografias no Tate Modern, em Londres
Os artistas angolanos Edson Chagas, Délio Jasse, Kiluanji Kia Henda, e o moçambicano Mário Macilau, são quatro dos artistas internacionais escolhidos para expor os seus trabalhos fotográficos no museu Tate Modern, em Londres. No total, são 36 os artistas de diferentes países, idades e contextos que exploram o passado, o presente e o futuro do continente africano na exibição "A World in Common: Contemporary African Photography".
Um dos temas trazidos nos trabalhos é o colonialismo e a forma como a população e a cultura foram massacradas pelo poder colonial. No cartaz explicativo, que introduz a primeira parte do bloco "Identidade e Tradição", lê-se: "População da Europa e da Ásia instalou-se em África desde os tempos antigos, controlando a terra, os recursos naturais e as pessoas. Desde o séc. XVI, os europeus escravizaram mais de 10 milhões de africanos, sequestrando-os das suas casas e do seu património cultural". É explicada a história que envolveu países como Portugal, destacando que "em 1914, os poderes europeus tinham conquistado 90% de África. A Grã-Bretanha sozinha assumiu o controlo de quase um terço do continente".
As fotografias mostram reis e rainhas de países como Gana e a Nigéria e, assim, a sua vontade de preservação do património cultural e histórico, quando as dinâmicas de poder eram testadas ao máximo. Em baixo, vemos Ogiame Atuwatse III, rei tradicional da Nigéria do Reinado de Warri, no Estado Delta.
Outro dos temas fortes da exposição é a espiritualidade e a diversidade de religiões em África. Citando os próprios materiais do Tate Modern: "A espiritualidade em África é complexa e diversa como o próprio continente" e, nesta secção da exposição fica claro o peso dos rituais, das crenças ligadas à feitiçaria e das "tradições espirituais para conectar o mundo dos vivos e o mundo dos espíritos".
Segundo o museu, os artistas olham aqui para "o corpo, a cerimónia e a devoção. Examinam o ritual como uma forma de cura e de se conectarem com comunidades perto e longe, reais e imaginárias".
As máscaras são também objetos representados nas criações artísticas presentes nesta exposição, no centro da capital inglesa. Estão dentro do bloco "Identidade e Tradição", e evocam as máscaras enquanto parte da herança cultural africana, tendo um papel fundamental nos rituais e nas cerimónias.
O fotógrafo angolano Edson Chagas tem exibidas o conjunto de fotografias "Tipo Passe", em que os protagonistas estão a usar as máscaras Bantu "para representar os espíritos dos ancestrais" mas conjugam-nas com roupas atuais. O artista nascido em 1977 optou por atribuir a cada pessoa um nome europeu-africano, "sublinhando o papel da migração e do colonialismo no desenvolvimento da identidade", lê-se na exposição.
Dentro do grupo de artistas lusófonos, está também Mário Macilau. O artista moçambicano trabalha sobretudo a preto e branco, e gosta de registar o que vê à sua volta, "documentando as pessoas das localidades que viajavam para a cidade para vender as suas coisas", conta.
No seu trabalho há a intenção de questionar a dignidade e a identidade das comunidades marginalizadas.
Quem visitar a exposição vai ainda ver o trabalho de Délio Jasse que, numa feira em Portugal, encontrou fotografias de uma família portuguesa que viveu em Nampula, Moçambique, nos anos 1960, na época colonial. Segundo o museu, surpreendeu-o o facto de os retratos não mostrarem a realidade que se vivia ali: "O contraste entre a imagem e o local em que foi tirada foi o que me interessou... Eles estão em África, mas não há nada (nas fotografias) que indique a localização... Há muito poucas pessoas negras. E as poucas pessoas negras (claramente escravas) estão quase escondidas, não é fácil vê-las", disse.
Já Kilaunji Kia Henda, nascido em Angola e a trabalhar no país mas também em Portugal, interessou-se por documentar o boom da construção civil em Angola, mas que resultou muitas vezes em "prédios vazios enquanto muitas pessoas estão a viver sem-abrigo". Os contrastes são tema desta instalação, que merece o centro de uma das salas no museu.
A exposição, que conta com representação lusófona, pode ser vista até 14 de janeiro de 2024.